Depoimentos


José Albano de Macêdo(Ozildo Albano)

Dimas Leopoldo Lélis


Conheci Ozildo Albano desde a década de 30, já nos conhecemos amigos, nossos pais, compadres de filhos, por isso, com certeza, a amizade foi sempre conservada.

Fizemos o curso primário juntos e nossas professoras eram D. Maria do Socorro Santos Leal Gomes, D. Maria de Jesus Santos e D. Hilda Policarpo. Dos fatos que aconteceram na escola, nesse espaço de tempo, dois ficaram sempre sendo motivos de nossos comentários: o primeiro é que D. Hilda deixou a escola para servir, voluntariamente, como enfermeira, na II Guerra Mundial e o segundo foi a mudança do Sistema Monetário Nacional, do Réis para o Cruzeiro. Essa mudança foi de 1941 para 1942.

Em 1943, setembro, comecei a trabalhar nos Correios e Telégrafos, ficando, por falta de tempo, afastado das conversas, etc.

Depois disso, Ozildo foi estudar no seminário em Teresina, mas teve que abandoná-lo por motivo de saúde. Voltou a Picos, onde recuperou a saúde e ficou trabalhando no comércio, mais precisamente na mercearia de José Granja. Acho também que foi nessa época que ele usou muita parte do seu tempo para “fazer” injeção ( a célebre Penicilina), que era feita de duas em duas horas e ele passou muitas noites acompanhando esse tratamento. As aplicações eram ininterruptas.

Em 1949 nos preparamos para o exame de admissão ao ginásio no fim do ano e prestamos o serviço militar no Tiro de Guerra 201. Éramos 49 atiradores. Logo nos primeiros meses Ozildo conquistou a simpatia de todos os companheiros e também do Instrutor, pois assumiu todo o serviço burocrático do Tiro de Guerra, o que motivou o bom conceito que o instrutor adquiriu perante a Região Militar.

Uma das coisas, dentre muitas que admirava em Ozildo, era a memória, a lembrança. Em 1989, nos preparávamos para comemorar os 40 anos de término do Tiro de Guerra e ele ainda sabia de cor, nome e número de guerra de todos os atiradores e quais os que já haviam falecido.

De 1950 a 1953 fizemos o ginásio. Ali e nesse período, se não todas as iniciativas, quase todas foram tomadas por Ozildo: Páscoa de estudantes ( assim como no Tiro de Guerra, Páscoa dos Militares; criação do Grêmio Estudantil; peças teatrais (quem lembra de “O Avarento”, que ele dirigiu?); tipografia, foi a Recife-PE comprar o prelo para o jornal “A Flâmula”; campanha para Rainha dos Estudantes, etc, etc.

São essas, resumidamente, as principais coisas que muito marcaram a minha convivência com esse grande amigo que, com muita honra, conheci e que tenho dito repetidas vezes: no campo da cultura, Picos ainda não se deu conta do prejuízo que teve com a sua morte.

Ozildo Albano: um vulto que marcou época

Célia Neiva de Sousa Lima

Falar de Ozildo albano, é, para mim, motivo de satisfação e orgulho, muito embora a realidade de sua ausência nos faça tristes e saudosos.

A sua simplicidade, sua modéstia e sua discrição não deixavam transparecer o quanto ele era importante em relação à cultura picoense.

Foi ele articulista do jornal A Flâmula, quando cursava a 2ª série no Ginásio Estadual Picoense, por sinal, aluno da primeira turma.

Continuava seus estudos em Fortaleza, onde cursou o 2º grau. Mais tarde, aprovado no vestibular, tornou-se acadêmico de Direito.

Concluindo o curso superior, submeteu-se ao concurso para ingresso na magistratura piauiense, sendo classificado nos primeiros lugares.

A partir daí, exerceu a função de juiz em Pio IX e Jaicós.

Aposentado, dedicou-se ao magistério, onde se sobressaiu com relevância.

Incansável defensor da verdade, do Direito e da Justiça, fez a chamada opção preferencial pelos pobres, nunca recuou ou se intimidou diante das incompreensões e injustiças, muitas vezes ligadas à sua laboriosa e fecunda existência.

Podemos afirmar, foi ele, o Baluarte Perpétuo da Cultura em nossa cidade, em nossa região.

Como prova dessa afirmação, o Museu Ozildo Albano, cujo acervo revela a sua capacidade de trabalho e dedicação à vontade de perpetuar a memória dos que fizeram a história em nossa cidade.

Concluindo, fica a nossa mensagem: “Sua ausência, por nós tão sentida, não apagará a sua imagem, que por certo, ficará refletida em cada canto, em cada sala, em cada ato de amor, em cada exemplo que você nos deixou”.

José Albano de Macêdo

Custódia Matutina de Alencar

O Dr. José Albano de Macêdo (Dr.Ozildo) foi Juiz de Direito da Comarca de Pio IX, no período de 27 de fevereiro de 1964 a 30 de julho de 1966.

Exerceu o elevado cargo neste município, com muita responsabilidade e honestidade. Por isso mesmo é que era respeitado como autoridade por todos os piononenses. Além de respeitado, todos tinham verdadeira amizade e consideração à pessoa dele, que era simples, sincera e demonstrava gostar de todos e não tinha aqui nenhuma inimizade.

Foi Diretor e Professor de Português do Ginásio “Francisco Suassuna de Melo”, de Pio IX, nomeado por ato do então Prefeito Municipal José Ferreira de Alencar Mota (Zuca Berto), em 1º de março de 1964, para Diretor e, em 02 de março de 1964 para Professor de Português, permanecendo nos cargos até o fim de sua estada nesta cidade. O ginásio nessa época era municipal.

Desempenhou muito bem os referidos cargos. Era muito estimado por todos os alunos, professores e demais funcionários do ginásio.

Como Diretor, além de administrar com carinho o educandário, gostava muito de realizar festividades escolares, por ocasião de datas cívicas comemorativas: Dia das Mães, festas juninas, Páscoa e Natal.

Por ocasião de um natal, naquela época, organizou um Pastoril, composto de um grupo de pastorinhas que chamou a atenção de toda a população da cidade. Elas cantavam e dançavam em visita às residências, fato que nunca mais se repetiu.

Realizou uma dramatização com a peça: “A Bruxinha que era Boa”, muito bem organizada, que todo o povo gostou. Foi apresentada por alunos do Ginásio, entre eles: Teresa Maria de Alencar, Celiomar Antão, Joicenilde Maia, Antônio Castelo e Célia Andrade.

A finalidade dessa dramatização foi angariar recursos para uma excursão ao Recife-PE e a Paulo Afonso-BA, com a Segunda Turma concludente do ginásio, formada pelos alunos: Teresa Maria de Alencar, Trindade Alencar, Luisete Antão, Mercês Antão, Cecília Florêncio, Gracinha Ferreira, Joicenilde Maia, Lídia do Monte, Crineilda Bezerra, Joaquim Viana, Alencar Neto, Manoel Bezerra e Antônio Senhor.

As quadrilhas organizadas por Dr. Ozildo eram muito bonitas, alegres, cuja marcação era feita por ele mesmo. Houve um ano em que, vieram da Várzea da Carnaubinha até a cidade todos os componentes da quadrilha, cada par montado em cavalo, o cavalheiro com a dama na garupa, com sombrinha aberta e bolsa a tiracolo, inclusive, vinham em cavalos também o padre e os pais dos noivos. Foi tudo muito interessante.

Gostava muito de festas de aniversário e casamento. Lembro-me bem de um aniversário dele, em sua residência; um de Graziela Arraes e do casamento da professora Leda Feitosa.

A primeira turma de concludentes, quando ele era Diretor do Ginásio foi a seguinte: Antônia Zuila de Sousa. Anísia Maria de Alencar, Benedito Bezerra de Alencar, Custódia Matutina de Alencar, Décio Antão de Alencar, Elói de Alencar Bezerra, Francisco Alves de Oliveira, Geraldo Bezerra de Alencar, Geraldo Florêncio de Sousa, Inácio Bezerra de Alencar, Maria Dalva Lopes do Nascimento e Maria Teresa Maia. A festa realizou-se no dia 06 de janeiro de 1965.

O povo de Pio IX sentiu muita saudade de Dr. Ozildo , aquele juiz, educador e amigo que, como juiz, foi promovido para outra comarca, deixando para nossa boa comunidade a boa impressão de que era possuído o grande homem público.

Professor Ozildo

Ana Maria Coutinho Feitosa

Picos perde você
Professor Ozildo
Professor amigo,
Você, amante do simples e belo
Conservador da cultura antiga
Picos, arte, cultura, formou-se um elo
Fundador do nosso museu
Nosso, porém mundo seu.
Você, ídolo semi-esquecido
Por poucos venerado
Contudo muito querido
E doravante idolatrado.
E por não se julgar importante
Aparentando um ser pequeno
Não percebeu ser um gigante
No seu modo de ser sereno

RECADO A OZILDO ALBANO

Olívia Rufino da Silva Borges

Você, que no infinito foi morar
Procure, mas procure com atenção,
O meu bom amigo Ozildo Albano
Que partiu, e ano após ano,
Eu não sei como vai, se é feliz,
Que amigos encontrou ele não diz,
E nem se pode guiar a nossa mão.
Ele que esbanjava sentimento,
E afinava o tom do pensamento
À história e ao convívio da leitura
Até o seu dia é também o da cultura,
E a santa virgem, a sua devoção.

__ E conte que sentimos muita falta,

Que o seu conceito continua em alta.
Mas o juiz Edvaldo anda dizendo,
Que o antigo código de postura
Que deveria estar na prefeitura,
Depois de procurar de fazer dó,
Descobriu, que ele o escondera,
No fundo do museu num socotó.

__ diga que eu lutei com galhardia

Mas ele é o meu patrono na Academia.
Que agora eu canto é com Alencar,
Que nunca aprendi a acompanhar,
Que pouco ele perdeu indo-se embora,
Perdeu quem não o esquece e chora,
Perdemos nós, a memória e o arquivo
O companheiro, o sábio, o amigo
De leitura, seresta e violão,
Mas, o progresso chega de pouquinho,
E o que cresce é feio e em desalinho,
E que a tristeza do povo tem razão.

__ e conte a ele. Logo que o encontrar:

Que o Elísio ainda gosta de cantar,
Mas o trio acadêmico está calado
Como a retreta, a banda e o reisado.
Mas o Albano continua no Museu,
A Bete nunca o esqueceu,
Que o meu livro saiu e que venceu,
E, que eu perdi a eleição.

__ e conte, não deixe de contar:

Que a cidade continua devagar,
Que o Guaribas morre em regressão,
Que o morro desce em erosão,
Que sua mãe partiu ao seu encontro,
Que o seu afilhado continua um tonto,
Mas o Ozildo segundo já nasceu,
O sobrinho Gustavo já cresceu,
Que o sol aparece ao clarear,
Que a festa da noite é o luar,
E que a luz da família é Conceição.

__ e fale, não esqueça de falar:

Que o meu caderno onde um dia ele escreveu,
O mistério insondável da saudade,
Foi um recado além da imensidade,
Já começava a dormir seu coração
E diga que o céu tem a mesma cor,
Que Mundica é sempre a mesma flor,
Que a perda foi grande de verdade,
Que a vida é o portal da eternidade,
E que um amigo é mais que um irmão.

Um encontro com a cultura

Erivan Lima

Os intelectuais, de uma maneira geral, são acusados de ser introvertidos, demasiadamente fechados, secos e arredios. Como toda regra tem exceção, o Professor Ozildo Albano está dentro dessa exceção. José Albano de Macêdo, o nosso Professor Ozildo, conseguiu juntar a intelectualidade à simplicidade. Nisso há uma grandeza, é óbvio. Os títulos que conseguiu, os cargos que ocupou e o patrimônio acumulado, especialmente sua reconhecida bagagem intelectual, não conseguiram tirar de Ozildo Albano sua característica maior: a simplicidade.

O Professor Ozildo Albano, de longo tempo, há cerca de trinta anos, vinha dedicando todo o seu esforço e sua vida a uma causa: recuperar a história de Picos. Seu trabalho diuturno, dizia sempre, era para que o povo picoense não se tornasse um povo sem memória, sem história. Ozildo Albano conseguiu muito. Não conseguiu, é claro, tudo que gostaria de alcançar. Mas fez muito. Fez tudo o que pôde. Diria mesmo, que ele foi além das suas possibilidades e o seu trabalho não foi em vão. Pelo contrário, foi profícuo, construtivo e benéfico. Quantas e quantas pessoas, ilustres ou consideradas não ilustres, aprenderam com ele e por ele foram ajudadas, informadas, aprenderam algo de novo, ou recuperaram aquilo que era esquecido ou perdido com o passar dos anos. O trabalho heróico de Ozildo Albano, em preservar a cultura de Picos e conferir aos picoenses a possibilidade de poder saber e contar a sua própria história, já lhe assegura um lugar de destaque dentro da mesma história.

“O homem sábio é aquele que usa a sabedoria para se aproximar de Deus e mais, não se pode estar próximo de Deus, se não estiver próximo dos homens”. A sabedoria de Ozildo Albano serviu para aproximá-lo ainda mais dos homens e, creio, por intermédio destes, de Deus. Foi pela sua sabedoria, que tive a felicidade de aproximar-me dele, pela primeira vez. A sua simplicidade peculiar abriu-me as portas para o meu primeiro encontro com a cultura. Como aluno do professor Ozildo Albano, muito aprendi. Suas lições e ensinamentos muito me têm servido. Seu falecimento, que entristeceu a todos os picoenses não fará desaparecer o que de melhor ele soube fazer e deixou para todos nós: a cultura.

Temos agora que fazer, não tão bem quanto ele, tudo o que for possível para a história continuar sendo preservada e, com ela, a memória de Picos.


Gazeta Popular
(Picos-PI, 12 de julho de 1989)


Ozildo Albano

Brígida Varão

Com o falecimento do Professor Ozildo Albano, a história de Picos fica ameaçada de continuar sendo enriquecida e, sobretudo, de ser criteriosamente preservada. A cultura de uma maneira geral sofre, indiscutivelmente, um grande abalo. A nossa esperança é a de que os picoenses se sintam igualmente responsáveis pelo patrimônio que Ozildo Albano nos legou.

Sabemos que a cidade de Picos é reconhecidamente um centro de comercialização. As pessoas, quase sempre envolvidas nos seus negócios, cuidando dos seus interesses. No entanto, vale a pena lembrar, sem qualquer pretensão de ferir ou magoar alguém, que não vale a pena somente entesourar mais e mais os bens materiais. É importante verificar que toda riqueza do mundo pode ser em vão, se o homem perder, na sua trajetória, a sua identificação, sua característica, se não fizer e preservar, como um bem precioso, sua própria história. Nunca é muito repetir, que um povo sem história é um povo sem identidade, logo, sem consciência do seu valor, da sua dignidade, por desconhecer suas origens.

Portanto, ao mesmo tempo em que homenageamos postumamente o Professor Ozildo Albano, um dos picoenses mais ilustres que esta terra já gerou, confiamos que seu trabalho terá prosseguimento.

Gazeta Popular
(Picos-PI, 12 de julho de 1989)


Ozildo Albano

Renato Duarte

Ainda sob o impacto do súbito e prematuro desaparecimento de Ozildo Albano, e ainda dominado pela perplexidade que me acomete diante desse grande mistério que é a fragilidade da vida e a inexorabilidade da morte, dou-me conta do quanto Ozildo era uma pessoa excepcional. Não vai nessa afirmação nenhum pagenírico post-mortem, mas, ao contrário, a percepção de que, ao morrer Ozildo, as suas qualidades humanas e intelectuais ficam evidenciadas pela negação dos lugares-comuns próprios dessa circunstância. Um desses lugares-comuns sugere que a morte de algumas pessoas empobrece as comunidades onde elas vivem. Pois raras vezes, ao que me consta, uma cidade ficou tão empobrecida quanto Picos, agora que Ozildo se foi. É que a contribuição intelectual e a presença humana dele constituíam um patrimônio que destacava Picos, culturalmente, dentro do Piauí, a par da sua reconhecida importância econômica. Qual outra cidade piauiense tinha, entre os seus filhos, uma pessoa que reunia, ao mesmo tempo, a vocação de pesquisador, historiador, memorialista e colecionador? O papel exercido por Ozildo, para a preservação da memória factual e para o resgate e conservação do patrimônio histórico e iconográfico da cidade, foi único e inigualável. Nesse sentido, a perda de Ozildo é irreparável para Picos, pois ele não terá substitutos. Primeiro, porque a tarefa a que Ozildo se dedicou, com tanto entusiasmo e empenho, ocorreu numa época em que foi possível colher valiosos depoimentos de pessoas e resgatar objetos e documentos antes que o tempo se encarregasse de destruí-los. Segundo, porque Ozildo tinha uma vocação incomparável para o labor da pesquisa histórica e da coleta documental. Terceiro, porque ele, com a comunicabilidade e poder de persuasão que lhe eram peculiares, conseguia convencer os seus conterrâneos sobre a necessidade de se preservar, em um local apropriado, um museu, objetos e documentos de interesse histórico para a cidade.

Outro lugar-comum que a morte de Ozildo desfaz é o de que as comunidades não costumam reconhecer os méritos intelectuais de seus filhos. Pelo que me foi dado perceber, Ozildo recebeu do povo de Picos inúmeras demonstrações de reconhecimento pelo seu trabalho. Eram edificantes, a propósito, o entusiasmo e a atenção com que ele atendia os seus consulentes, fossem eles pesquisadores experimentados ou estudantes do segundo grau.

Outro lugar-comum é o de incluir na galeria dos filhos ilustres das cidades, as pessoas que se destacam pelos cargos que ocupam ou pelos títulos que ostentam. Também nesse caso Ozildo fugiu ao lugar-comum, pois a importância dele para Picos transcendeu em muito essas honrarias efêmeras. O legado que Ozildo deixou, e que foi fruto da sua inteligência, sensibilidade,, dedicação e amor à sua terra é eterno, pois está perpetuado nos seus escritos e no seu museu. Resta esperar que os picoenses saibam reconhecer o valor desse legado, prestando a Ozildo as homenagens que são devidas, mas, sobretudo, zelando e preservando o patrimônio cultural que ele deixou.

Especial - Gazeta Popular
(Picos-PI, 19 de julho de 1989)


Carta à direção do Jornal de Picos

Sérvulo Barros Bezerra – PUCCAMP-SP

Parabéns à equipe, pelo trabalho pioneiro de colocar nas mãos dessa maravilhosa população picoense o “JORNAL DE PICOS”. Sem margem de dúvida, bem produzido, com um material sério e de excelente nível técnico, tenho a agradável sensação de que os princípios adotados pela Direção foram sempre intuitivos e que está o “JP” no caminho certo, graças a seus artigos e matérias colocados, com muita propriedade e profissionalismo, associando-se aos votos de todos aqueles que fazem parte das atividades que impulsionam a vida desse pacato e inesquecível povo picoense.

Cabe-nos, como picoenses e admiradores dessa magnífica gente, contribuirmos para que o “JP” possa se tornar cada vez mais importante e imprescindível para o fator de desenvolvimento e expansão desse valioso e amado pedacinho de céu, infinitamente aplausível por todos aqueles que, de certo modo, têm raízes naquele torrão pátrio piauiense.

Cabe-me, também, como picoense da gema, referenciar a memória póstuma do mestre da Ciências das Leis, das Artes e da Cultura, como reconhecimento, pêsames e agradecimentos ao Dr. OZILDO ALBANO, pelo seu titular e considerado papel representativo da intelectualidade de Picos. Sentimos hoje, o povo picoense, o vazio, a lacuna deixada pelo Dr. OZILDO ALBANO, por onde quer que tenha passado durante esta pequenina estadia conosco, pelas caminhadas da vida. Meus agradecimentos pelos prestimosos, sinceros, ternos e relevantes atuações no campo da ciência e cultura.

Como educador, postou-se numa corrida destacável, admirável e incansável pela difusão dos seus meritórios conhecimentos, procurando transmiti-los de geração a geração, com muita dedicação e ética profissional, sendo prejudicados todos aqueles que não tiveram a oportunidade de tê-lo como um mestre amigo. Pela sua simplicidade, educação e estilo diplomático de tratar as pessoas, soube, o Dr. OZILDO ALBANO, angariar laços de amizades do mais bem sucedido empresário ao mais humilde cidadão piauiense, sem preconceitos de raça ou religião, conquistando, assim, espaços da mais alta valia em todos os segmentos da sociedade. Estou convicto que as sementes plantadas pelo Dr. OZILDO ALBANO certamente serão multiplicadas , muitíssimas vezes, para o próprio bem dessa gente que tanto o admirava.

Como célula picoense que sou, devo muito ao Dr. OZILDO, pela grande parcela dos conhecimentos básicos que possuo.

Jornal de Picos
Picos-PI, 23 de agosto de 1989


Homenagem a Ozildo Albano – Aniversário 20 de novembro

Mundica Fontes

Em cinco de julho de 1989, perdemos um grande amigo, uma fonte inesgotável de sabedoria, a quem sempre buscávamos informações e respostas para as dúvidas no campo da cultura.

A comunidade picoense perdeu seu maior “Patrimônio Cultural”.

Felizes são os que conviveram com Ozildo, que tiveram o privilégio de absorver momentos enriquecedores ao lado desse “Gigantesco Dicionário-Vivo”, dessa “Enciclopédia Humana e Atuante”.

Muitos amigos, nesse momento, gostariam de prestar homenagem para expressar seus sentimentos de carinho, amizade e gratidão a esse homem que, solidamente alicerçou a cultura picoense.

Uma homenagem para Ozildo Albano teria de ser mais ou menos assim:

Simples, como fora toda a sua vida; cheia de músicas: clássica, romântica e sertaneja, que expressassem os mais nobres sentimentos;

Ter sabor bem pitoresco, que lembrasse: moagem, folclore e farinhada;

Seria preciso que todos os rostos sorrissem de forma espontânea e pura, como ele o fazia, ao cumprimentar as pessoas no dia-a-dia; abrigassem Jesus em seus corações, assim como ele o abrigava e cantava: “...achei Jesus, achei meu Salvador...”

O coral da catedral entoaria hinos em louvor a Jesus e à Virgem dos Remédios;

Os sinos da Igrejinha teriam de dar suas notas dolentes, anunciando a Ave-Maria;

Uma homenagem a Ozildo, teria de ter: reisados, dança de São Gonçalo, cantorias, seresta e a caminhada, a pé, para Bocaina, na época do festejo de sua padroeira; muitas crianças dançando o “Bailado” e revivendo o “Pastoril”. Não poderia faltar o “Presépio”, na época natalina, o aluá e pamonhas, nas festas juninas.

Para homenagear Ozildo Albano, seria necessário que as pessoas: dedicassem mais atenção aos anciãos, que vivem sem abrigo e sem pão, pois ele carinhosamente fazia; respeitassem mais a natureza e soubessem apreciar o doce canto do sabiá e ouvir, atentamente, o canto rouco da “Fogo-pagô”.

É tão simples homenagear Ozildo porque foi tão simples sermos cativados por ele.

Vamos homenageá-lo:

Valorizando mais a nossa história, preservando nossas raízes culturais, reativando grupos extintos de folclore, amando o que é nosso sem desvirtuar nossas tradições folclóricas e religiosas, cultivando momentos de silêncio para reflexão de vida voltando nossos corações para Deus, pois só assim estaremos mais perto do nosso amigo Ozildo.

Gazeta Popular
Picos-PI, 22 de novembro de 1989


OZILDO ALBANO: O PALADINO DA CULTURA PICOENSE

Vilebaldo Nogueira Rocha

Quando Ozildo faleceu dia 05 de julho de 1989, no velório encontrei a artista plástica e amiga Mundica Fontes. Ela me pediu que escrevesse um texto falando da importância de Ozildo Albano para nossa cultura. Tinha como objetivo colher vários depoimentos de pessoas ligadas às artes e a ele, para fazer-lhe uma homenagem, publicando tais depoimentos em jornais locais. O certo é que não escrevi, e, salvo engano, esses depoimentos também nunca foram publicados.

Algum tempo depois escrevi um poema intitulado “Garimpeiro de Memórias” que foi publicado em jornais e também consta no meu segundo livro de poemas O Caçador de Passarinhos, publicado no início de 2006. Era uma dívida que eu tinha para com esse vate da nossa cultura. Mas na verdade o poema diz pouco, diante do que representa Ozildo no panorama cultural picoense. O que sei é que ele foi e continua sendo o paladino da nossa cultura.

Pouco convivi com Ozildo, duas ou três visitas ao antigo museu para fazer pesquisas escolares. Ele era sempre prestativo e orientava os estudantes no que fosse possível. Era de uma humildade que espantava: como ser tão rico no saber e tão simples no viver! Na verdade o grande patrimônio era o próprio Ozildo, com toda gama de conhecimentos e vivências de um homem que sempre esteve à frente de seu tempo. Infelizmente, a gente só percebe o verdadeiro valor das pessoas quando as perdemos.

José Albano de Macêdo, popularmete conhecido como prof. Ozildo Albano, nasceu em 20 de novembro de 1930 em Picos.

Foi um dos fundadores e presidente do “Grêmio Literário Da Costa e Silva”. Coordenou várias atividades culturais, serestas e realizou várias encenações de peças teatrais. Trouxe de Recife uma tipografia, e no dia 15 de março de 1952 circulou o primeiro número do jornal estudantil do Ginásio de Picos – “Flâmula”. Foi juiz de direito e professor.

Entretanto, sua grande obra foi a fundação do Museu “João Gomes Caminha”, legado que ele deixou à sociedade picoense, hoje museu “Ozildo Albano”. Não foi obra de uns dias ou alguns anos, mas de toda uma vida: Foram 58 anos, 7 meses e 15 dias de extrema dedicação à cultura, à memória da cidade e de seu povo. Cotidianamente escreveu, comprou, pediu, pesquisou, guardou: escrituras, cartas, fotografias, livros, discos, quadros, relíquias, imagens sacras, etc, etc, etc...

Muito do que ele garimpou, resgatou e construiu, continua guardado, pois o que hoje está exposto no Museu Ozildo Albano, é bom que se diga, não representa nem cinqüenta por cento do acervo deixado. Muitas peças, documentos, escritos e fotografias, sem contar a vasta e riquíssima biblioteca com mais de dois mil livros, continuam no antigo local onde funcionava o museu “João Gomes Caminha” sem que possa ser disponibilizado à sociedade, isso em virtude da falta de apoio e do descaso por parte dos órgãos governamentais, que pouquíssimo tem feito para que se possa usufruir de todo esse tesouro garimpado por Ozildo Albano.

Apesar dos pesares, Albano, seu irmão, e a família continuam cuidando dessa obra preciosa, dando seguimento ao trabalho por ele iniciado. O próprio museu não recebe verbas suficientes para o seu funcionamento. Certa vez Albano confidenciou-me, que já chegou a recusar objetos que lhe foram oferecidos por não dispor de espaço nem de recursos para acomodar tais relíquias. Declarou-me isto com uma tristeza que doía na alma.

Picos possui um legado valioso, resta agora saber aproveitar, saber usar e contribuir para manter esse patrimônio. Onde estão as escolas que não levam os alunos para visitarem o museu, para aprenderem no museu????!!!!!! O museu é dinâmico, não pára, como disse Cazuza: vejo um museu de grandes novidades, o tempo não pára.

Numa justa e merecida homenagem, o dia do natalício de Ozildo Albano, 20 de novembro, foi instituído como o dia da cultura picoense.

Picos-PI, 22 de novembro de 2006.
Vilebaldo Nogueira Rocha
Presidente da União Picoenses de Escritores


GARIMPEIRO DE MEMÓRIAS

Vilebaldo Nogueira Rocha

Ozildo não tocava a terra;
Ele era a terra.
Ozildo não admirava a lua;
Ele era a lua.
Ozildo não olhava o sol;
Ele era o sol.

Ozildo era estrela galopante,
Colhendo a essência da vida
E derramando sobre a cabeça dos incautos.

Nós, outros, caminhamos ao encontro do futuro;
Ele trilhava em busca do passado
E projetava um futuro mais claro,
Mais sólido.

Ozildo Albano.
Nome gravado na pedra
A unhas e dentes,
Em meio aos temporais das línguas efêmeras,
Dos bois encaretados,
Que não enxergam além do nariz.

Dia-a-dia na peleja dos anos,
Com as próprias mãos humanas e olhos de lince,
Arrancava os cacos da história
E a flor do eterno brotava dos escombros do passado.

Garimpava emoções, tristezas, dores e alegrias:
Quanto não há de sorriso numa carta de alforria!?
Quanto não há de dor!?
Tantas imagens sacras que plantaram fé!
Tantos livros à mão-cheia, como diria o poeta!
Tantas fotografias que captaram o tempo!
Tantas assinaturas que registraram fatos, vidas e mortes!
Só assim o futuro faz sentido.

Garimpeiro de Memórias.
Semeador do futuro
Estrela galopante abrindo caminhos.